José Piza e o falar do caipira


Caipira picando fumo (Almeida Júnior, 1893).

O grande conhecimento do autor José Piza sobre o caipira é destaque na nossa literatura. Foi até o motivo pelo qual Arthur Azevedo o convidou para ser co-autor de "O Mambembe" - um dos espetáculos do nosso projeto -, com a tarefa de cuidar de alguns personagens sertanejos.

No artigo "São Paulo Futuro: o caipira na projeção de uma metrópole", escrito por Cássio Santos Melo e publicado na edição nº 36 de junho de 2009 da Revista Histórica, podemos conhecer mais sobre o autor.

José Piza, nos idos do século XIX, foi outro autor que se pôs a retratar o caipira paulista nos seus escritos; no ano de 1888 - Piza então contando com apenas dezenove anos - estreou na cidade de Sorocaba, no Teatro São Rafael, a sua comédia em um ato Os Dois Jucas. A trama dessa peça envolve o casamento de Rufina (filha do Dr. Melado, que é advogado) com Juca Telles (proprietário de um bilhar frequentado pelo pai de Rufina). Outra personagem que aparece na trama é o camarada [sic] Bento, morador do bairro rural de Itapecerica. José Piza não situa muito bem o espaço da peça - a julgar pelas personagens e por indícios colocados em alguns diálogos, a ação se passa na zona rural da cidade de São Paulo. O caipira Bento vai à procura de Dr. Melado, o advogado da região, para resolver uma questão de terras com seus vizinhos no sertão de Itapecerica, além disso, o Dr. Melado reclama em alguns momentos dos inconvenientes de se morar na roça. 

O camarada Bento é o típico sitiante dos bairros rurais e das chácaras que se localizavam em torno da cidade de São Paulo, figura essa que povoou as memórias de Jorge Americano escritas em 1957. O sitiante em alguns casos era o proprietário da sua terra, mas na maioria trabalhava como uma espécie de arrendatário de uma porção de terra ou era simplesmente empregado de uma propriedade. Segundo Americano, o caipira dos arredores de São Paulo era aquele homem facilmente identificável na paisagem urbana: sempre com um chapéu de palha, um lenço no pescoço e descalço. Esses caipiras (sic) tinham um importante papel na economia da cidade, pois eram os principais fornecedores de pequenos víveres como peixes, galinhas e leitões, e também de hortaliças e lenha para uso doméstico e industrial. A ligação com o campo (produção/moradia) e o comércio de produtos trazidos das áreas rurais, associados à pobreza e o modo de vida simples, contribuíam na definição do estereótipo do caipira por parte dos contemporâneos. 

José Gabriel de Toledo Piza colaborou na imprensa periódica de São Paulo e do Rio de Janeiro, é autor de várias comédias e escreveu alguns trabalhos teatrais em coautoria com Gomes Cardim, Arlindo Leal e Arthur Azevedo. Com este, colaborou na burleta "O mambembe", representada pela primeira vez no Teatro Apolo, do Rio de Janeiro, em 7 de dezembro de 1904; aos cuidados de José Piza ficaram as falas de algumas personagens sertanejas. 

A Revista de Teatro da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), no ano de 1956, editou em um de seus números o texto integral dessa obra de Arthur Azevedo. No início os editores publicaram alguns escritos de Arthur Azevedo constantes no folhetim O Theatro, publicado em A notícia. Nesse pequeno preâmbulo ele conta que quando pensou em escrever O mambembe lembrou-se de José Piza, visto que já conhecia alguns de seus trabalhos teatrais, os quais revelavam especial habilidade na observação dos costumes e desejava lançá-lo definitivamente como autor teatral no Rio de Janeiro. A par disso, podemos afirmar que a análise de O mambembe é importante não apenas pelo fato de ser uma peça em que podemos novamente encontrar a personagem caipira. O comentário de Arthur Azevedo nos dá uma dimensão clara de como o Rio de Janeiro na Primeira República era o centro cultural brasileiro e de que para escritores de outros estados alcançarem notoriedade no teatro precisava-se passar necessariamente pelo crivo carioca.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

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